quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Defesa da Tese de Renan Belmonte Mazzola: “Discurso e imagem: transformações do cânone visual nas mídias digitais”

por Thiago Ferreira da Silva

A defesa da tese intitulada Discurso e imagem: transformações do cânone visual nas mídias digitais, de autoria do pesquisador Renan Belmonte Mazzola, marca não apenas o encerramento de nosso Colóquio, mas o momento histórico para a Análise do Discurso no Brasil que é representado por esse evento. O colóquio representa importantes marcos: 30 anos da morte de Michel Focault, 30 anos de dedicação da professora Dra. Maria do Rosário Gregolin à Unesp de Araraquara e um grande encontro de várias gerações do Grupo de Estudos em Análise do Discurso de Araraquara, fundado e liderado pela professora e que se encontra na origem de muitos dizeres, nas convergências (mas também nas divergências) de diversos saberes. Nesse aspecto, o trabalho de Renan Mazzola está em plena consonância e é bastante representativo das contribuições e importantes deslocamentos teóricos e metodológicos trazidos pelo Grupo: visa a problematizar as categorias analíticas da AD em relação à imagem, às novas materialidades, os diálogos com uma semiologia de Courtine (e também outra, de Barthes), enfim, toda uma série de questionamentos que nasce nas diversas formações do GEADA ao longo dos anos e se espalha pelo Brasil (e mesmo fora dele) junto com os professores e pesquisadores formados no seio desse grupo.
A própria composição da Banca Examinadora parece corroborar esse marco. A presença e as falas dos professores Denise Witzel, Luzmara Curcino, Nilton Milanez e Pedro Navarro trazem as reverberações desse pensamento com Foucault, como uma homenagem a esse pensador que não marca, nesse momento, sua ausência, mas sua presença cada vez mais viva e instigante em nossos trabalhos.

Renan traz, em seu trabalho, uma reflexão que, segundo o professor Nilton Milanez, é de grande relevância e de que temos grande carência na AD desenvolvida no Brasil: aquela a respeito do discurso estético. A banca ressalta, em sua tese, a importância do levantamento realizado nas bases da AD em busca de um pensamento a respeito do discurso estético. Voltando os olhos ainda sobre os trabalhos de Pêcheux, em especial à sua chamada terceira fase, Renan encontra, já nesses textos, referências, ainda que raras, a respeito de projetos de uma análise do discurso estético. Encontra, nos diálogos entre Foucault e Panofsky, ainda outras possibilidades de análise do cânone visual. Observa também, na obra de Courtine, como as modificações e transformações no discurso político possibilitam (e mais do que isso, tornam imprescindíveis) a emergência de um projeto semiológico no arcabouço teórico da AD. Desse modo, o autor traça, em sua tese, um caminho que se aproxima cada vez mais de Foucault sem, no entanto, desconsiderar o legado de Michel Pêcheux para a AD enquanto um projeto teórico, como destacam os professores Pedro Navarro e Luzmara Curcino.
Além disso, a professora Denise Witzel ressalta que, apesar de ter como objeto central o discurso estético e os cânones das artes plásticas, o discurso político objeto privilegiado da AD desde suas origens se faz fortemente presente, teórica e analiticamente. A pesquisadora afirma que, voltando seu olhar sobre um blog que subverte criticamente imagens e pinturas clássicas inserindo elementos da cultura do espetáculo e do consumo contemporânea, Renan trata do discurso estético e da questão fundamental das novas materialidades sem se distanciar, em nenhum momento, do caráter político que é predominante nesses discursos, inserindo sua tese na já extensa rede de trabalhos desenvolvidos não apenas pelo GEADA, mas por todos os grupos e pesquisadores que são hoje seguidores dos trabalhos da professora Rosário Gregolin.

            Desse modo, o Colóquio 30 anos com Foucault, que se inicia em Araraquara e se desenvolverá, ao longo deste ano de 2014, em outras paragens do Brasil, bem como a tese defendida por Renan Mazzola marcam um momento de balanço das grandes contribuições e deslocamentos já realizados em nossos trabalhos, mas também um momento que pode definir novos rumos para nossos projetos teóricos e nossas práticas analíticas. Como no corpus da pesquisa de Renan (os grandes cânones da pintura mundial), na tela da AD brasileira foram se desenhando, desde os anos 1980, vários traços, direcionamentos com diferentes cores e nuances de tons e entretons, e entre essas se destacam sem dúvida as cores do GEADA, trazendo consigo os tons do corpo, da arte, das mídias e das novas materialidades. Como nos ensinam Courtine, Ginzburg, e mesmo Sherlock Holmes, é nos indícios mínimos, quase despercebidos nesse quadro da AD brasileira que se desenha, de modo profundo e inconfundível, a história de um importante campo do saber no Brasil, com Gregolin, com Courtine, com Foucault.
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Web-série| AD com Michel Foucault

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Primeira temporada