Defesa da Tese de Renan Belmonte Mazzola: “Discurso e imagem: transformações do cânone visual nas mídias digitais”
por Thiago Ferreira da Silva
A defesa da tese
intitulada “Discurso e imagem:
transformações do cânone visual nas mídias digitais”, de autoria do pesquisador Renan Belmonte Mazzola, marca não apenas o encerramento de nosso Colóquio, mas o momento histórico para a Análise do Discurso no Brasil que é
representado por
esse evento. O colóquio representa
importantes marcos: 30 anos da morte de Michel Focault, 30 anos de dedicação da professora Dra. Maria do Rosário Gregolin à
Unesp de Araraquara
e um grande encontro de várias gerações do Grupo de Estudos em Análise do Discurso de
Araraquara, fundado e liderado pela professora e que se encontra na origem de
muitos dizeres, nas convergências (mas também nas divergências) de diversos
saberes. Nesse aspecto, o trabalho de Renan Mazzola está em plena consonância e é
bastante
representativo das contribuições e importantes
deslocamentos teóricos e metodológicos trazidos pelo Grupo: visa a problematizar as categorias analíticas da AD em relação à imagem, às novas materialidades, os diálogos com uma
semiologia de Courtine (e também outra, de
Barthes), enfim, toda uma série de
questionamentos que nasce nas diversas formações do GEADA ao longo dos anos e se espalha pelo Brasil (e mesmo fora
dele) junto com os professores e pesquisadores formados no seio desse grupo.
A própria composição da Banca
Examinadora parece corroborar esse marco. A presença e as falas dos professores Denise Witzel, Luzmara Curcino, Nilton
Milanez e Pedro Navarro trazem as reverberações desse pensamento com Foucault, como uma homenagem a esse
pensador que não marca, nesse
momento, sua ausência, mas sua
presença cada vez mais viva e instigante em
nossos trabalhos.
Renan traz, em seu
trabalho, uma reflexão que, segundo o
professor Nilton Milanez, é
de grande relevância e de que temos grande carência na AD
desenvolvida no Brasil: aquela a respeito do discurso estético. A banca ressalta, em sua tese, a importância do levantamento realizado nas bases da AD em busca de um
pensamento a respeito do discurso estético. Voltando os
olhos ainda sobre os trabalhos de Pêcheux, em especial à sua chamada “terceira fase”, Renan encontra, já nesses textos, referências, ainda que raras, a respeito de projetos de uma análise do discurso estético. Encontra, nos
diálogos entre Foucault e Panofsky, ainda
outras possibilidades de análise do cânone visual. Observa também, na obra de
Courtine, como as modificações e transformações no discurso político possibilitam
(e mais do que isso, tornam imprescindíveis) a emergência de um projeto semiológico no arcabouço teórico da AD. Desse
modo, o autor traça, em sua tese, um
caminho que se aproxima cada vez mais de Foucault sem, no entanto,
desconsiderar o legado de Michel Pêcheux para a AD
enquanto um projeto teórico, como destacam
os professores Pedro Navarro e Luzmara Curcino.
Além disso, a professora Denise Witzel ressalta que, apesar de ter como
objeto central o discurso estético e os cânones das artes plásticas, o discurso
político – objeto privilegiado
da AD desde suas origens –
se faz fortemente
presente, teórica e
analiticamente. A pesquisadora afirma que, voltando seu olhar sobre um blog
que subverte criticamente imagens e pinturas clássicas inserindo elementos da cultura do espetáculo e do consumo contemporânea, Renan trata do
discurso estético e da questão fundamental das novas materialidades sem se distanciar, em nenhum
momento, do caráter político que é
predominante nesses
discursos, inserindo sua tese na já
extensa rede de
trabalhos desenvolvidos não apenas pelo
GEADA, mas por todos os grupos e pesquisadores que são hoje seguidores dos trabalhos da professora Rosário Gregolin.
Desse
modo, o “Colóquio 30 anos com Foucault”, que se inicia em
Araraquara e se desenvolverá, ao longo deste
ano de 2014, em outras paragens do Brasil, bem como a tese defendida por Renan
Mazzola marcam um momento de balanço das grandes
contribuições e deslocamentos
já realizados em
nossos trabalhos, mas também um momento que
pode definir novos rumos para nossos projetos teóricos e nossas práticas analíticas. Como no corpus da pesquisa de Renan (os grandes cânones da pintura mundial), na tela da AD brasileira foram se
desenhando, desde os anos 1980, vários traços, direcionamentos com diferentes cores e nuances de tons e
entretons, e entre essas se destacam sem dúvida as cores do GEADA, trazendo consigo os tons do corpo, da arte,
das mídias e das novas materialidades. Como nos
ensinam Courtine, Ginzburg, e mesmo Sherlock Holmes, é nos indícios mínimos, quase
despercebidos nesse quadro da AD brasileira que se desenha, de modo profundo e
inconfundível, a história de um importante campo do saber no Brasil, com Gregolin, com
Courtine, com Foucault.