A identidade do jornalismo no (dis)curso da história da imprensa no Brasil
Por Vinícius Durval Dorne. O trabalho foi desenvolvido sob orientação da Profa. Dra. Maria do Rosário Gregolin.
RESUMO
Inserido no campo da Análise do Discurso (AD) francesa, com recorrências às contribuições
do filósofo Michel Foucault, este estudo se debruça sobre o sujeito contemporâneo,
especificamente o jornalista, buscando compreender como a partir do discurso se constroem
regimes de verdade para a existência desse sujeito dentro da sociedade. O que é ser jornalista?
Quais os riscos de estar nesta posição? O que é preciso ser/fazer para ser jornalista? Quem
pode falar no jornalismo? Essas interrogações, neste trabalho, não se detêm no processo de
construção da subjetividade pelo próprio sujeito jornalista, mas como este é tomado como
objeto de discurso e, inerentemente a esse processo discursivo, subjetivado, ou seja,
(des)construído por práticas discursivas. Desta forma, levanta a seguinte problemática de
pesquisa: “Como, ao longo da história da imprensa no Brasil, constitui-se o ‘sujeitojornalista’,
especificamente em discursos de historiadores/jornalistas que procuram (re)contar
essa história?”. Enfim, “como nos jogos enunciativos operacionalizados em diferentes campos
são forjadas identidades para o jornalista?”. E, sendo necessário compreender o jornalista na
complexidade de sua existência atual, é que este estudo faz o movimento de se voltar para a
história de longa duração para, nesse processo histórico-social, desvendar como o sujeito se
torna o produto de práticas discursivas diversas e fortemente amparadas na contradição –
condição própria da linguagem – que delimitam um campo possível para o “ser jornalista”, os
exercícios de poder próprios desta posição sujeito e também aqueles que atravessam e
determinam a posição sujeito; práticas discursivas que classificam, rejeitam, assimilam,
silenciam o jornalista ao longo da história. Assim, este empreendimento problematiza o
sujeito jornalista na história do Brasil, a partir de acontecimentos discursivos inerentes a esse
processo – delimitados neste estudo como um trajeto para o procedimento analítico –,
interroga como no (dis)curso da história da imprensa brasileira, especificamente a partir de
1808, constroem-se identidades impossíveis para o sujeito jornalista, tendo como corpus dois
livros que se debruçam sobre a história da imprensa no país e que são recorrentes nos Planos
de Ensino das disciplinas dos cursos de Jornalismo que buscam refletir sobre a história do
jornalismo no país: História da imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré, e História,
jornal e técnica: história da imprensa brasileira, volume 1, de Benedito Juarez Bahia. Para
tanto, reflete sobre a concepção de história na proposta arquegenealógica de Foucault; história
que se erige pelo e no discurso, e nas contradições inerentes a ele, composta de múltiplas
temporalidades, não-lineares. Ainda, busca compreender quem é o sujeito nas reflexões
foucaultianas; condição própria para a existência do discurso, ao passo em que é o resultado
também do próprio jogo discursivo em funcionamento nesse motor histórico. E, a partir deste
entendimento, reflete sobre o processo da identidade, valendo-se das contribuições dos
Estudos Culturais Britânicos, apropriando-os dentro do campo da teoria do discurso para,
então, analisar como práticas discursivas da/sobre a história da imprensa no Brasil
objetivam/subjetivam o jornalista, construindo-lhes identidades impossíveis. Observa-se nos
corpora a circulação de sentidos que tomam o jornalista como o representante da “verdade”
materializada na informação, bem como o responsável por promover o discurso de resistência
ao poder opressor – muitas vezes físico – que recai sobre os homens. Às vezes, aliado ao
poder vigente, outras, ao poder que resiste, mas sempre exercendo/sendo exercido (por) um
poder. Literato, cínico, técnico, objetivo, imparcial, direto, combatente, acadêmico: espaços
impossíveis construídos no próprio discurso – e, assim, no interior da história –, dentro dos
quais se é (não) autorizado a ser “jornalista”.
Palavras – chave: Análise do Discurso. Foucault. Identidade. Jornalista. História da imprensa
brasileira.
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Sobre o autor:
Vinícius Durval Dorne Doutor em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), linha "Estrutura, Organização e Funcionamento Discursivos e Textuais", com a tese "A identidade do jornalista no (dis)curso da história da imprensa no Brasil". Doutorado Sanduíche no Programa Ciências da Comunicação, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), com a pesquisa "A identidade do jornalista no (dis)curso da história: de Portugal ao Brasil de 1808". Mestre em Letras, área de Estudos Lingüística, linha de pesquisa "Estudos do Texto e do Discurso" pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com a dissertação "Práticas discursivas midiáticas na/sobre a identidade do jornalista sem diploma". Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pelo Centro Universitário de Maringá - CESUMAR. Graduando em Letras - Português/Inglês - pelo Centro Universitário Cesumar (UniCesumar). Coordenador dos cursos de graduação em "Jornalismo" e "Publicidade e Propaganda", bem como dos cursos técnicos do PRONATEC - "Processos Fotográficos", "Rádio e Televisão", "Produção de áudio e vídeo" - do Centro Universitário Cesumar (UniCesumar). Membro do Grupo de Comunicação no Ambiente Digital (COMAMDI), da UniCesumar. Tem experiência no campo teórico e metodológico de pesquisas em Comunicação Social, norteadas pelo referencial teórico-metodológico da Análise de Discurso francesa, em especial às contribuições da arqueogenealogia de Michel Foucault. Além de estar envolvido, na docência e em pesquisas, com questões concernentes à História e Teorias do Jornalismo, Linguagem Radiofônica, Radiojornalismo, Novas tendências em Jornalismo, Webjornalismo e a análise de materiais sincréticos/multimodais (texto, imagem, áudio, vídeo). Amparado na relação discurso, sentido e mídia, trabalha na investigação de temas que envolvem os discursos institucionais e midiáticos.