Tese| Práticas discursivas, redes de memória e identidades do feminino: entre princesas, bruxas e lobos no universo publicitário
Leia a tese de doutorado do Profa. Dra. Denise Gabriel Witzel. O trabalho foi desenvolvido sob orientação da Profa. Dra. Maria do Rosário Gregolin.
RESUMO:
A construção de
identidades do feminino é a questão central deste trabalho que se desenvolve à
luz da Análise do Discurso derivada de Michel Pêcheux, mais precisamente a
partir dos aportes de Michel Foucault incorporados nesse campo do saber. O
objetivo é contribuir com uma reflexão sobre o funcionamento discursivo da
linguagem publicitária atravessada e constituída interdiscursivamente pelo
discurso dos contos de fadas, focalizando os jogos de verdades e as redes de
memória que historicamente subjetivaram/objetivaram o ser mulher. Parte-se do
princípio de que, diante da imensa orquestração da mídia no cotidiano das
pessoas e diante do fato de que a publicidade figura como uma das vozes mais
ativas na ocupação dos espaços públicos na sociedade de consumo, sua linguagem
(sedutora e persuasiva), suas múltiplas significações e os vestígios de sua
historicidade, que forjam identidades, precisam ser investigados, descritos e
analisados, de modo a se explicitarem os processos de apreensão e de produção
de sentidos. O material de análise é constituído por peças publicitárias
veiculadas, na mídia impressa, em três momentos: (i) início do século XX, época
em que era bastante expressiva a circulação de anúncios de medicamentos,
exaltando a natureza frágil da mulher; (ii) anos 1960 e 1970, momento em que a
publicidade enaltecia a imagem de rainha do lar, contrariando os postulados
feministas que começavam a ganhar visibilidade e dizibilidade nas práticas
cotidianas; (iii) na atualidade, quando, então, é possível observar, no
entrecruzamento da memória com as publicidades do passado, a permanência, o
deslocamento e o apagamento de sentidos que falam da/sobre a mulher, possibilitando
uma descrição e análise sobre os contornos identitários do feminino nos novos
tempos. O gesto analítico diante dessas materialidades e do espaço de memória
que elas convocam examina as condições de existência e de circulação dos
enunciados, as posições de sujeito ali apontadas, as especificidades das
materialidades que dão corpo aos sentidos e as articulações que esses
enunciados estabelecem com a história e a memória. Com efeito, ao dar
visibilidade ao fato de que a formação do arquivo sobre o ser mulher
historicamente se deu mediante fixação seletiva de discursos produzidos
pelas/nas relações de poder-saber e pelos/nos sistemas de valores
sócio-histórico-culturais, o estudo conclui que as práticas discursivas das
propagandas, tecidas interdiscursivamente pelos fios da memória dos contos de
fadas, (re)descrevem o sujeito feminino de acordo com os discursos de verdade
que surgiram em tempos quase imemoriais. No período analisado, a mulher emerge
como uma síntese metafórica da feminilidade sedimentada no imaginário, com
destaque para os estereótipos da mulher frágil e da mulher esposa-mãe-dona de
casa. Nas publicidades mais recentes, ela emerge, também, como efeito da
construção discursiva que traz as marcas da transformação histórica de um sujeito
que precisava ser resguardado no espaço doméstico, reprimido e, não raro,
castigado para um sujeito que precisa aparecer e parecer inspirador de desejo e
lugar de sexualidade.
Palavras-chave: discurso, história das mulheres, memória,
identidade, publicidade, contos de fadas.
Sobre a autora:
Denise Gabriel Witzel possui
graduação em Letras Português Francês pela Universidade Estadual Paulista -
UNESP-Assis (1989), mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual
de Maringá (2003) e doutorado em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade
Estadual Paulista - FCL/UNESP-Araraquara-SP (2011). Em 2009, realizou estudos
em programa de doutorado sanduíche na Universidade Louis Lumière de Lyon II,
França. Desde 1998, é professora na Universidade Estadual do Centro-Oeste
(UNICENTRO-Guarapuava/Pr). Tem experiência na área de Linguística, com ênfase
em Análise do Discurso, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino da
língua portuguesa, identidade, discurso e mídia.