30 anos com Foucault : um projeto de felicidade!
Por Rosário Gregolin
Iniciamos este Colóquio com a voz de Foucault enunciando a modernidade como a época do espaço porque a heterotopia é um conceito central no seu pensamento. Ele está presente não só nos seus ditos e escritos, mas já se anuncia nos primeiros trabalhos, como em As palavras e as Coisas quando Foucault mostra que a episteme da modernidade entrecruza as temporalidades com os espaços. Já disse Foucault em sua clássica conferência de 1967:
A época atual seria talvez, de preferência, a época do espaço. Estamos na época do simultâneo. estamos na época da justaposição. do próximo e do longínquo. do lado a lado. do disperso. Estamos em um momento em que o mundo se experimenta, acredito, menos como uma grande Via que se desenvolveria através dos tempos do que como uma rede que religa pontos e que entrecruza sua trama. (FOUCAULT, Outros lugares, Ditos & Escritos, vol. 2)
Considerando essa centralidade das heterotopias, ao denominarmos este Colóquio como “30 anos com Foucault” não pensamos na temporalidade contínua, cronológica, que nos separa do momento em que Foucault partiu e sua voz física se calou. Esses 30 anos que queremos marcar é um tempo de presença, um tempo que fatalmente se entrecruza com espaços. Não pretendemos, portanto, ser nem os piedosos descendentes do tempo, nem os habitantes encarniçados do espaço.
Porque vivemos em heterotopias e heterocronias: esses 30 anos com Foucault são marcados por lugares, por heterotopias do tempo, seja aquele tempo do acúmulo, das bibliotecas e museus, seja aquele fugaz como o tempo das feiras e festas.
Queremos apanhar o pensamento de Foucault, nesses 30 anos, em um lugar de saber: na Análise do Discurso, na sua presença que vem sendo construída pela voz de vários grupos de pesquisa, em muitos lugares do Brasil. Alguns desses grupos estão aqui presentes neste Colóquio. Outros estarão em outros lugares em que esse Colóquio se desenvolverá durante este ano de 2014.
É esse movimento de várias vozes em vários lugares, há vários anos, que tem constituído uma AD foucaultiana no Brasil. Movimentar-se, ir de um lugar a outro é essencial para a produção dos saberes. Não é à toa que Foucault nos disse que o navio é a heterotopia por excelência. Afinal, nas sociedades sem navios, os sonhos naufragam, a vigilância toma o lugar da aventura e a polícia toma o lugar dos corsários.
Vídeo de abertura do evento
Edição Araraquara