segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Bakhtin, Foucault, Pêcheux

Maria do Rosário Gregolin

A história de uma ciência é um conjunto indefinidamente móvel de
escansões, defasagens, coincidências, que se estabelecem e se desfazem.
(Michel Foucault, As palavras e as coisas)

ENTORNOS DA HISTÓRIA

Escansões, defasagens, coincidências: tais são, segundo Foucault, os entornos da história agindo sobre o desenvolvimento das teorias. Apanhar alguns dos fios que entrelaçam esses entornos, iniciar uma discussão sobre nossas “heranças e filiações” no campo da análise do discurso (AD) praticada atualmente no Brasil são os objetivos deste artigo. Por meio de uma revisitação a alguns momentos da constituição dessa disciplina, centrada particularmente nas propostas de Pêcheux, Bakhtin e Foucault, procuro caminhar em direção à história da construção conceitual que interliga o discurso, o sujeito e a sociedade. Esse movimento é motivado pela tentativa de rebater algumas idéias muito freqüentes hoje em dia, como, por exemplo, as que afirmam que: a) tudo é AD e b) a AD carece de identidade teórica. Na base dessas afirmações está a não consideração dos lugares ocupados por certos autores e suas formulações, das diferenças teóricas e metodológicas e, conseqüentemente, da existência de diferentes projetos no interior de um grande campo do saber, hoje denominado “AD”.

Ao mesmo tempo, ao pensar sobre “nossas heranças e filiações”, abre-se a possibilidade de discutir a circulação de certos slogans como “a AD pecheutiana só trabalha com o ideológico” ou “Foucault nada tem a ver com discurso”; ou, ainda, a redução de um pensador como Bakhtin a um punhado de conceitos como “gênero”, “dialogismo”, etc., desligados do contexto histórico e político em que foram produzidos. Enfim, na base de minha argumentação está a interrogação: como enumerar esses nomes de autores sem transformá-los em fetiches teóricos? Ou, em outras palavras: como fugir do apagamento da dimensão histórica da AD e enxergar a contribuição de cada um deles num certo momento da construção de um grande projeto teórico que atravessou o século XX e se estende até os nossos dias?

Tenho, portanto, o objetivo de iniciar uma discussão necessária, atualmente, para o campo da AD no Brasil, atravessado pelo apagamento da singularidade das posições, posicionando-me contra a homogeneização que, nas palavras de Courtine “amalgama, neutraliza e torna indistinguível sob uma etiqueta consensual posições teóricas contraditórias”. Mais do que nunca, é necessário resgatar as fundações teóricas dos projetos desses diferentes autores, as exigências teóricas dos seus textos fundadores para, a partir desse movimento, problematizar a própria noção de “herança”, isto é, lançar aos analistas de discurso o desafio de nos perguntarmos: “como esses autores foram e estão sendo lidos, interpretados e postos em funcionamento em trabalhos atuais no Brasil?”


Leia o trabalho completo, clique aqui.



In GREGOLIN, M. R. F. V.. Bakhtin, Foucault, Pêcheux. In: Beth Barit. (Org.). Bakhtin. Outros conceitos-chave. 1ed.São Paulo: Contexto, 2006, v. 1, p. 33-52.

Bakhtin, Foucault, Pêcheux
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