Bakhtin, Foucault, Pêcheux
Maria do Rosário Gregolin
A história de uma
ciência é um conjunto indefinidamente móvel de
escansões, defasagens,
coincidências, que se estabelecem e se desfazem.
(Michel Foucault, As
palavras e as coisas)
ENTORNOS DA HISTÓRIA
Escansões, defasagens, coincidências: tais
são, segundo Foucault, os entornos da história agindo sobre o desenvolvimento
das teorias. Apanhar alguns dos fios que entrelaçam esses entornos, iniciar uma
discussão sobre nossas “heranças e filiações” no campo da análise do discurso (AD)
praticada atualmente no Brasil são os objetivos deste artigo. Por meio de uma
revisitação a alguns momentos da constituição dessa disciplina, centrada
particularmente nas propostas de Pêcheux, Bakhtin e Foucault, procuro caminhar em
direção à história da construção conceitual que interliga o discurso, o sujeito
e a sociedade. Esse movimento é motivado pela tentativa de rebater algumas idéias muito freqüentes
hoje em dia, como, por exemplo, as que afirmam que: a) tudo é AD e b) a AD carece de identidade teórica. Na base dessas
afirmações está a não consideração dos lugares ocupados por certos autores e
suas formulações, das diferenças teóricas e metodológicas e, conseqüentemente,
da existência de diferentes projetos no interior de um grande campo do saber,
hoje denominado “AD”.
Ao mesmo tempo, ao pensar sobre
“nossas heranças e filiações”, abre-se a possibilidade de discutir a circulação
de certos slogans como “a AD pecheutiana só trabalha com o ideológico” ou
“Foucault nada tem a ver com discurso”; ou, ainda, a redução de um pensador
como Bakhtin a um punhado de conceitos como “gênero”, “dialogismo”, etc.,
desligados do contexto histórico e político em que foram produzidos. Enfim, na
base de minha argumentação está a interrogação: como enumerar esses nomes de autores sem transformá-los em fetiches
teóricos? Ou, em outras palavras: como fugir do apagamento da dimensão
histórica da AD e enxergar a contribuição de cada um deles num certo momento da
construção de um grande projeto teórico que atravessou o século XX e se estende
até os nossos dias?
Tenho, portanto, o objetivo de
iniciar uma discussão necessária, atualmente, para o campo da AD no Brasil, atravessado
pelo apagamento da singularidade das posições, posicionando-me contra a
homogeneização que, nas palavras de Courtine “amalgama, neutraliza e torna
indistinguível sob uma etiqueta consensual
posições teóricas contraditórias”. Mais do que nunca, é necessário resgatar as
fundações teóricas dos projetos desses diferentes autores, as exigências
teóricas dos seus textos fundadores para, a partir desse movimento,
problematizar a própria noção de “herança”, isto é, lançar aos analistas de
discurso o desafio de nos perguntarmos: “como esses autores foram e estão sendo
lidos, interpretados e postos em funcionamento em trabalhos atuais no Brasil?”
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In GREGOLIN, M. R. F. V.. Bakhtin, Foucault, Pêcheux. In: Beth Barit. (Org.). Bakhtin. Outros conceitos-chave. 1ed.São Paulo: Contexto, 2006, v. 1, p. 33-52.
In GREGOLIN, M. R. F. V.. Bakhtin, Foucault, Pêcheux. In: Beth Barit. (Org.). Bakhtin. Outros conceitos-chave. 1ed.São Paulo: Contexto, 2006, v. 1, p. 33-52.
Bakhtin, Foucault, Pêcheux
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